29/12/2017

O passado de hoje em diante


Dizem que não se pode olhar para o passado, que tudo ficou para trás, que o que passou, passou e a vida segue em frente. Mas, se não se pode olhar para o passado, o que nos resta?

Aquele sentimento de fechar os olhos e sentir tudo girando, como a sensação de um bêbado. Embriagues depois do sexo, transar e sentir o mundo dando voltas, fechar os olhos e ter a sensação de que vai cair. Como quando se sonha que está caindo da cama e se acorda assustado tentando se segurar em alguma coisa. Mas isso é muito mais sobre ela do que sobre mim. É a sensação de quem sente, e não de quem proporciona a alegria do momento. É muito mais sobre sensibilidade, muito mais sobre permitir-se sentir do que sobre fazer sentir. A minha alegria, porém, era simplesmente admirar a beleza de tudo aquilo. Impressionante como me fascinava. As caretas de prazer, os sorrisos tímidos, o rosto e o semblante de quem está adorando e aproveitando cada segundo de cada pincelada de prazer; duas, três, quatro... dez vezes de uma vez só. E o mundo seria tudo o que eu mais quero o tempo todo. Mas, nada além do passado existe agora. Só me resta olhar para trás, e ouvir todos dizendo que olhar para trás está errado. De jeito nenhum. Não existe alegria sem passado. Não existe nada que faça sorrir que não tenha vindo de tudo o que senti. É o passado que me sustenta, que sustenta meu presente e norteia meu futuro. Escrever é o que me resta. Sempre que decido parar, escrevo mais e mais; e tudo o que eu faço na vida se resume a isso, por mais que eu tente dizer não, por mais que eu implore a mim mesmo para parar e por mais que eu tente furiosa e incoerentemente fazer outra coisa da vida. Escrever é o que me resta, e tudo se baseia em tudo o que já vivi, em tudo o que fez de mim o homem mais feliz da face desta terra cheia de confusão e infelicidade. O presente me traz isso, me traz a vontade de viver e sentir tudo de novo. O presente me ilude sobre o futuro que possivelmente nunca existirá. Mas, se não for assim, o que será de mim? O que resta nesta minha vida, se não acreditar e ter esperança sobre dias melhores e felizes, de mãos dadas e sorrindo feito criança por motivos bobos do dia a dia? E essa vida se tornando um zigurate de andares cônicos que não tem fim, um sobre o outro, como minhas memórias, minhas insônias, meus sonos forçados pela exaustão da madrugada e do amanhecer tardio. Finais felizes? Nenhum. Não quero os finais. Quero os dias, as horas, os minutos... quero cada segundo de felicidade. Não o final. O final não me importa. Quero todos os momentos com o sorriso estampado no rosto como a luz das pinturas mais humanas... como um renascentista antropocêntrico que tenta desesperado retratar a realidade e o pouco de humanidade que ainda existe dentro de cada um de nós. Tudo isso, para quê? Para que um dia nos aplaudam; pois, todos queremos ser o centro das atenções uma vez ou outra.

Sem o passado, de que me importa meu futuro? Não existe ninguém além, ninguém lá na frente. Ninguém que me satisfaça tanto quanto quem me satisfez em outros tempos, pois tudo se baseia em tudo o que já senti nesta minha vida... e o toque, o calor, a sensação... tudo está ligado intima e intrinsicamente ao calor de um só corpo e o cheiro de uma só pele. E não se faz mais passado como antigamente. Espero que não. E que a memória conserve seu rosto e sua existência, por mais que esqueça de qualquer outra coisa. O que importa é o agora. E meu agora é sobre tudo e existe em todos os tempos. Meu agora está lá atrás, desde o primeiro dia, implorando para que o amanhã seja tão caridoso quanto todos os carinhos que já senti.

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Fan page nova: Marco Buzetto

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