Dizem que não se pode olhar para o passado, que tudo ficou
para trás, que o que passou, passou e a vida segue em frente. Mas, se não se pode
olhar para o passado, o que nos resta?
Aquele sentimento de fechar os olhos e
sentir tudo girando, como a sensação de um bêbado. Embriagues depois do sexo,
transar e sentir o mundo dando voltas, fechar os olhos e ter a sensação de que
vai cair. Como quando se sonha que está caindo da cama e se acorda assustado
tentando se segurar em alguma coisa. Mas isso é muito mais sobre ela do que
sobre mim. É a sensação de quem sente, e não de quem proporciona a alegria do
momento. É muito mais sobre sensibilidade, muito mais sobre permitir-se sentir
do que sobre fazer sentir. A minha alegria, porém, era simplesmente admirar a
beleza de tudo aquilo. Impressionante como me fascinava. As caretas de prazer,
os sorrisos tímidos, o rosto e o semblante de quem está adorando e aproveitando
cada segundo de cada pincelada de prazer; duas, três, quatro... dez vezes de
uma vez só. E o mundo seria tudo o que eu mais quero o tempo todo. Mas, nada
além do passado existe agora. Só me resta olhar para trás, e ouvir todos dizendo
que olhar para trás está errado. De jeito nenhum. Não existe alegria sem passado.
Não existe nada que faça sorrir que não tenha vindo de tudo o que senti. É o
passado que me sustenta, que sustenta meu presente e norteia meu futuro. Escrever
é o que me resta. Sempre que decido parar, escrevo mais e mais; e tudo o que eu
faço na vida se resume a isso, por mais que eu tente dizer não, por mais que eu implore
a mim mesmo para parar e por mais que eu tente furiosa e incoerentemente fazer
outra coisa da vida. Escrever é o que me resta, e tudo se baseia em tudo o que
já vivi, em tudo o que fez de mim o homem mais feliz da face desta terra cheia
de confusão e infelicidade. O presente me traz isso, me traz a vontade de viver
e sentir tudo de novo. O presente me ilude sobre o futuro que possivelmente
nunca existirá. Mas, se não for assim, o que será de mim? O que resta nesta
minha vida, se não acreditar e ter esperança sobre dias melhores e felizes, de
mãos dadas e sorrindo feito criança por motivos bobos do dia a dia? E essa vida
se tornando um zigurate de andares cônicos que não tem fim, um sobre o outro,
como minhas memórias, minhas insônias, meus sonos forçados pela exaustão da
madrugada e do amanhecer tardio. Finais felizes? Nenhum. Não quero os finais. Quero
os dias, as horas, os minutos... quero cada segundo de felicidade. Não o final.
O final não me importa. Quero todos os momentos com o sorriso estampado no
rosto como a luz das pinturas mais humanas... como um renascentista antropocêntrico
que tenta desesperado retratar a realidade e o pouco de humanidade que ainda
existe dentro de cada um de nós. Tudo isso, para quê? Para que um dia nos
aplaudam; pois, todos queremos ser o centro das atenções uma vez ou outra.
Sem o passado, de que me importa meu futuro? Não existe
ninguém além, ninguém lá na frente. Ninguém que me satisfaça tanto quanto quem
me satisfez em outros tempos, pois tudo se baseia em tudo o que já senti nesta
minha vida... e o toque, o calor, a sensação... tudo está ligado intima e intrinsicamente
ao calor de um só corpo e o cheiro de uma só pele. E não se faz mais passado
como antigamente. Espero que não. E que a memória conserve seu rosto e sua
existência, por mais que esqueça de qualquer outra coisa. O que importa é o
agora. E meu agora é sobre tudo e existe em todos os tempos. Meu agora está lá atrás,
desde o primeiro dia, implorando para que o amanhã seja tão caridoso quanto
todos os carinhos que já senti.
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