11/11/2019

Sobre ignorância, maldade e desinformação

Ilustração: Michele Rosenthal
Sabe quando sua mãe dizia “não minta que é feio”? Pois é, você mentiu para sua mãe. Você não aprendeu direito que é feio inventar histórias que machucam outras pessoas, e não aprendeu que, se você não sabe sobre o que está falando, muito provavelmente seja melhor aprender sobre o assunto, e nunca ser motivado pelo ódio e pela ignorância (da violência e/ou da falta de informação).

Atualmente neste nosso Brasil – e esse “atualmente” não é de agora –, a desinformação causa estragos que perduram anos; estragos que vão desde a mágoa, inverdades e maus-tratos contra uma pessoa que causa seu sofrimento até a mentira e manipulação coletiva que põem em risco inúmeras pessoas. E quando você espalha mentiras e desinformação (fake news) em suas redes sociais, você está causando estes males. A ânsia, aquela vontade quase incontrolável de tirar alguma coisa de dentro de você pode fazer seus dedos coçarem para clicar em “compartilhar” tudo o que vê sem mesmo ler ou saber do que se trata. Mas isso demonstra apenas sua falta de informação sobre o assunto. Não que você seja um ignorante maldoso... apenas falta-lhe um pouco de bom senso e clareza, e isso não é de todo ruim, e nos mostra dois caminhos: primeiro, falta-lhe informação e, segundo, pergunte sobre o assunto, se informe em fontes confiáveis e não vire uma máquina de compartilhamento desenfreada sem o mínimo de critério e prudência. Não crie o terror na cabeça das pessoas com desinformação, mentiras e exageros. Essa manipulação é prejudicial para todos.

Quero citar um exemplo atual: o Supremo Tribunal Federal (STF) em sua recente decisão que chocou alguns e agradou a outros. O que há no caso do ex-presidente Lula? Existiu uma condenação arbitrária que o prendeu (passando por cima da Lei maior, a Constituição) e existiu, recentemente, a libertação do mesmo após 1 ano e 7 meses. Existiu, também, uma condenação sem provas e com julgamento tendencioso, e existiu o cumprimento da Constituição ao libertarem-no. Perceba, não se trata de defender ou acusar Lula ou STF: estou usando o fato recente e de grande visibilidade como exemplo para explanar o que está acontecendo, e você pode pensar neste exemplo utilizando você e seus amigos e parentes no lugar do ex-presidente e a PM e Juizado no caso do STF.

Voltemos à ideia da ignorância, maldade e desinformação. Vemos uma chuva torrencial de postagens nas redes sociais sobre a decisão do STF: pessoas urgindo pelo fechamento do mesmo, espalhando mentiras e criando terror “datenesco” (estilo Datena) por toda parte. É preciso lembrar que o STF não mudou a Constituição e não criou lei para libertar ninguém. É preciso lembrar que, ao condenar e prender sem julgamento apropriado, aí sim se feriu a Constituição. Seria como você ou aquele seu amigo ou parente ser preso sem julgamento e passar meses ou anos na cadeia tentando provar sua inocência enquanto sua vida se esvai socialmente. E, mesmo depois de muito tempo, a Justiça assumindo seu erro de julgamento e libertando você pelo princípio da inocência (que fora descartado quando o prenderam inadequadamente), não sairão com você uma centena de presos perigosos. Estupradores e assassinos, por exemplo, possuem prisão preventiva decretada justamente por representarem risco eminente à sociedade pelo ato que realizaram, e não serão libertados a toque de caixa. Isso é uma desinformação, é mentira, e uma mentira maldosa que pretende tirar sua visão sobre a Constituição (nossa Lei Maior) querendo apenas fazer terrorismo digital para transformar essa ou aquela pessoa em bandido. Seria o mesmo que, no nosso exemplo, você tendo sido preso erroneamente e sem julgamento, sofrer ameaças constantes da sociedade para continuar preso, pois se você sair soltarão também todos os assassinos do Brasil, por sua causa, por conta de sua liberdade. E para “justificar” essa desinformação e mentiras maldosas, usam de notícias falas, notícias velhas e erros judiciais recorrentes (pois, existem, sim) sobre algumas situações, e tentam fazer você acreditar que a decisão do julgamento, da votação, baseada na Lei e respeitando, desta vez, a Constituição, fora errada. Por quê? Por que desde o começo você estava acostumado com o desrespeito à Constituição, como quando você vê alguma situação errada em seu local de trabalho e se pergunta o motivo de fazerem errado, e a resposta é “sempre foi assim”. E fazer a coisa certa do jeito certo se torna errado e ameaçador; e ninguém mais aceita, pois se acostumaram ao erro.

Enfim, de repente, você não mentiu para sua mãe quando ela lhe disse para não contar e não espalhar mentiras. De repente você apenas se esqueceu o quão ruim para si mesmo e para todos é sair por aí jogando conversas ao vento para ver quem atinge. Provavelmente, é só um pouco de preguiça deixando o bom senso de lado. Quando vir ou ouvir um conteúdo sobre qualquer assunto que você desconhece, pois a gente não sabe tudo, procure pensar um pouco sobre o que isso significa e o que a pessoa que está falando está tentando fazer. Talvez você possa parar de compartilhar tanta desinformação e fake news e deixar sua mãe orgulhosa. Talvez você ganhe um grande pedaço de bolo de chocolate com cobertura no final do dia e solte um sorriso por ter sido uma boa pessoa.


11 de novembro de 2019
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