É sempre muito bom ver e ouvir,
em qualquer meio, com a maior naturalidade, a relação que as pessoas passam a
ter com ídolos mortos, que nos deixaram a um ou dois dias, e que, de repente,
simplesmente, de uma hora para outra, estão por todos os lados na vida destes
que nunca antes se ouviu uma só palavra sobre o tal ídolo e artista.
Para citar os mais recentes,
morre o escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015), e todos,
inexplicavelmente, se tornam fãs incontestáveis e lamentam profundamente sua
morte. Ainda em abril, morre aos 82 anos um dos maiores ícones da dramaturgia
brasileira, Antônio Abujanra (1932-2015), e a hipocrisia é a mesma: centenas de
comentários de recentes “velhos” fãs enaltecendo sua existência e seu trabalho. O mesmo acontece com músicos da velha guarda ou cineastas de esquerda.
Parece até que a cultura e seus
produtores existem apenas para existirem em um lampejo de involuntariedade intelectual,
que os tornam vivos apenas quando estão mortos, depois de anos no esquecimento
ou no total desconhecimento por parte da esmagadora maioria.
Parece até que se poder ler estas
mentes: “vou comentar a morte de alguém importante para eu parecer inteligente
e por dentro do assunto”. Mas, antes, uma pesquisa rápida no Google para saber
se é isso mesmo, se o nome está certo, e pegar um vídeo do falecido no YouTube
para dar mais cara de intimidade ao comentário.
Antes disso, não me lembro de
algum dia ter visto alguém comentar o livro, comprar o ingresso para o teatro,
falar sobre o filme B... Triste. Mas, é assim. Passar a vida sendo esquecido
para, no fim, ter os merecidos quinze minutos de fama, parafraseando Andy
Warhol.
No final, mesmo que por algum
momento, todos viram heróis. Parabéns por sua hipocrisia, humanidade.
Ácido demais? Sem problemas. Dez segundos depois de ler este texto você já terá esquecido tudo isso.
Ácido demais? Sem problemas. Dez segundos depois de ler este texto você já terá esquecido tudo isso.
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