Rebeca Weisheit – do abismo da existência, terceira edição revisada e reeditada como edição definitiva, teve
seu projeto inicial alterado de um livro de filosofia para um romance
filosófico pretendendo fazer com que a Filosofia se tornasse mais acessível ao
disfarçar-se; encontrando, quem sabe nos meandros, maior visibilidade e
utilidade. O livro conta parte da vida de Rebeca, uma jovem mulher que bebe,
transa com quem bem entende e filosofa nos momentos mais inapropriados. O sexo,
então, é só a porta de entrada para a filosofia, quando a personagem encontra
seus interlocutores nos momentos mais vulneráveis. Amor, ódio, solidão,
hipocrisias cotidianas, contradições, morte, luto... temas encontrados em
diálogos como “a falsa devota”, que se entrega à religião sem seguir quaisquer
preceitos, “o questionador” que indaga sobre a moralidade das coisas, “o falso
oportunista”, “Jakellyne, a menina mulher que tirou paixões dos suspiros de
Rebeca”, e também em temas como “a falsa sensação de liberdade”, quando Anna e
Rebeca dialogam sobre este sentimento controverso que nos encarcera ao mesmo
tempo em que nos agradada: a liberdade e a não-razão sobre a solidão que nos
ensina. Na tentativa de “amar ao contrário” Rebeca nos ensina ao mesmo passo em
que aprende sem pudores, com suas ações naturalizadas, sem culpas sem pecados
injustificáveis. Afinal, alguns não pecam por nada.
Publicado pela primeira vez em 2013, tendo sua segunda edição em 2016. Copacabana Books (São Paulo) e Grupo Multifoco (Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro), em 2024 sua terceira edição foi lançada pela Editora Viseu.
“Rebeca Weisheit: do abismo da existência transita entre a literatura e a filosofia de forma a privilegiar a incerteza, a hesitação e a sensualidade conturbada. Luxo a que se dão apenas os grandes romancistas, Marco Buzetto criou, para além de uma personagem enigmática, um narrador acovardado pelas limitações de seu meio, castrador porque reacionário, um verdadeiro locus horribilis a cercear pensamentos como os de Rebeca. Habilmente, o autor maneja uma escrita cujas camadas interpenetram-se de modo a desestabilizar qualquer análise hermética.
Não
busquem os leitores de Rebeca um reflexo da realidade empírica (em) que
vivem: a narrativa trabalha em camadas mais sofisticadas. São tensas as
relações entre qualquer obra de arte e a sociedade/história/tempo em que foram
produzidas. Parte expressiva da crítica literária mobiliza o Zeitgeist de
Herder, popularizado aliás por Hegel e escritores/teóricos do romantismo
alemão, para melhor compreenderem os modos pelos quais a realidade e a ficção
dialogam. Em tradução livre, o termo remete a um espírito do tempo e busca
encontrar na tessitura artística características gerais de uma determinada
temporalidade espacial. Com o advento da crítica materialista – e, sobretudo,
com o materialismo dialético –, contudo, deu-se que certa aversão à
transcendência inviabilizou tal conceito, propondo em seu lugar a ideia de reflexo.
A arte seria, assim, um reflexo da sociedade que a concebeu. Ambas as
definições parecem-me insuficientes e lacunares para o entendimento do fenômeno
literário – e, sobretudo, limitadoras para o entendimento da literatura de
Marco Buzetto, que, sob tais perspectivas, nada seria senão um desabafo.
A
ficção cede, aqui, ao tom ensaístico e, por vezes, cinematográfico adotado pelo
narrador. Na construção do tecido literário, Buzetto lança mão de longos
capítulos e curtos comentários de matiz propriamente filosófico para aprofundar
as reflexões de Rebeca e das demais personagens. Não que a literatura tenha
sido um subterfúgio para a feição de um livro de filosofia – nada em Rebeca
Weisheit seria assim tão simples. Como um Saramago, o romancista Marco
Buzetto se vale da filosofia para a persecução da alma humana e das relações
sociais; como um Nietzsche, o filósofo Marco Buzetto se vale de estruturas
narrativas para a transmissão de um enredo que busca, esteticamente,
interpretar a realidade desconcertada – neste caso, a do Brasil do século XXI.
Rebeca
Weisheit: do abismo da existência é um romance pungente,
dotado de acurada sensibilidade, e se propõe a uma hermenêutica das causas do
desconcerto da subjetividade, uma investigação das estruturas que sustentam uma
ordem social que renega seres como Rebeca. A fim de implodi-la, talvez, ou a
fim de ser absolvida/absorvida em suas contradições, a protagonista renega sua
filiação a essa ordem ou a quaisquer outras, atestando ter-se gerado em seu
próprio útero, numa autogênese desiludida.
Com
Rebeca Weisheit, Marco Buzetto oblitera os limites da literatura
independente e faz da liberdade que sua publicação permite um instrumento de
desestabilização. A literatura brasileira enriquece-se com a publicação desta
edição definitiva. Buzetto é um autor que merece ser lido porque, como poucos,
consegue fundamentar sua ficção em uma escrita cada vez mais segura de si. Mais
do que isso: trata-se de um escritor que soube fazer de sua indignação diante
do mundo empírico a pedra de amola de suas palavras. A literatura de Marco
Buzetto não é feita apenas de palavras ou conceitos, de um fio exclusivamente
narrativo, mas sobretudo social. A literatura de Marco Buzetto é um brado
contra uma sociabilidade mascarada, uma voz na qual se percebe que o mundo tal
qual o conhecem certos estratos sociais talvez não passe de uma farsa de dois
gumes. – Trecho do prefácio “Hermenêutica do desconcerto: Rebeca Weisheit na
poética de Marco Buzetto”, escrito por Marco Aurélio Abrão Conte, doutorando
e Mestre em Estudos Literários.
Você pode comprar este livro com desconto entrando em contato com o autor via Instagram ou pelo formulário disponível aqui no site, ou diretamente no site clicando aqui.
Ambos os livros estão disponíveis sites das respectivas editoras com lançamento e fevereiro de 2024. Você também os encontra com o autor via Instagram ou Facebook e pode comprá-los autografados e com desconto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário