28/10/2017

O Egoísmo da Genética e a cultura da Social-coletividade

Existe um ponto – ou vários pontos – de alinhamento destes comportamentos: o egoísmo emparelhado à social-coletividade. Mas, primeiro, o que chamo de social-coletividade, já que social (de sociedade) e coletivo (de coletividade) aparentemente parecem sinônimos? Pois bem, não vejo desse modo – considerando que “humanidade” não é o coletivo de Homens ou seres humanos. Social, acredito eu neste texto, é um comportamento quase que inconsciente de coexistência de pessoas em um mesmo meio ambiente. Porém, pode um indivíduo não ser totalmente sociável, mesmo inserido neste ambiente em questão (por exemplo, num ambiente de trabalho, equipes etc.). Sentir-se membro de uma sociedade, ou seja, sentir-se parte dela, está ligado a um sentimento de pertencimento, de uma proximidade tão real que nos torna atraídos e inseridos por ela. Paralelamente a isso, coletividade é parte do comportamento deste nosso sentimento de sociabilidade. 


Podemos fazer parte e nos sentir parte de uma sociedade, mas, não necessariamente atraídos pelas mesmas questões de coletividade. Coletivo (de pessoas) está ligado a uma identidade ainda mais íntima às causas comuns. Convivo em sociedade, pois nasci, cresci e me criei nesta sociedade, absorvi seus costumes, seus comportamentos, suas regras e criei sobre elas as minhas próprias. Porém, numa coletividade, as questões são mais restritas, pois devem ser tão mais atraentes para o indivíduo que tantas outras questões comuns, fazendo dele alguém realmente preocupado e pertencente à realidade coletiva em questão. Coletivo, neste texto, então, é uma parte ainda menor de uma sociedade na qual estamos inseridos: é a fatia do bolo com a qual nos identificamos ainda mais, é o pedaço que queremos para a gente. A sociedade como um todo existe e estamos todos nela. A coletividade, no entanto, é quase um sinônimo de pertencimento e autoafirmação de mim dentro de um grupo específico.

Na contramão está o egoísmo da genética, o egoísmo do eu e a vontade do indivíduo de não estar, não fazer parte e não representar e se sentir representado pela coletividade. É o indivíduo movido por seus próprios impulsos. É aquele que, antes de tudo, levará em consideração a si mesmo e seu bem-estar antes de mais nada, e tudo a sua volta se tornará apenas um mar de possibilidades para alimentar seu próprio ego. Contudo, não desconsidere esse parágrafo e não pense que este comportamento está equivocado ou que em tempos de globalização cultural de nós mesmos esse sentimento esteja absolutamente errado. Não. Não está. Pois, a genética nos obriga a pensar em nós mesmos. O corpo nos obriga. O tempo nos obriga. É o egoísmo da sobrevivência do eu se digladiando com todas as nossas emoções e sensações quanto ao outro. Afinal, se eu não sobrevivo às lutas do dia a dia, quem será e quem se importará com o outro? Para que o outro, a outra pessoa, o outro ser humano a minha volta exista, é necessário que eu também exista, do contrário será apenas um. Sem mim, sem o egoísmo da minha própria existência, o outro deixa de existir instantaneamente. A genética, a organicidade de meu corpo e minhas experiências e contraexperiências é o que torna possível a existência de todos à minha volta. Saber que “de amanhã” eu não passo é o que cria em mim a ânsia por existir em um meio no qual eu seja reconhecido, reconhecendo este meio e fazendo parte dele (num amplo sentido de social-coletividade). Sem o eu, nada existe. Pois sem mim não existe consciência sobre o todo. Então, parece que o egoísmo de minha própria existência não está totalmente na contramão da coletividade, não é? Pois para que a coletividade exista, antes de tudo é necessário que exista minha própria consciência sobre o eu mesmo. Do contrário não seria possível à coexistência deliberada e funcional, a coexistência orgânica do beneficiamento e aproveitamento de ambas as partes (o eu e o outro/coletivo). Sem minha consciência sobre o que sou, o que quero, o que posso e o que tenho a oferecer, minha existência na sociedade – e numa coletividade – torna-se apenas uma habitação extremamente rápida e passageira de uma vida de simples osmose, do tipo “estou aqui e não tenho nada a oferecer à ninguém, pois não compreendo e não assimilo que outros tenham também algo a me oferecer”. O vazio absoluto. O nada. A existência vazia de um mosaico sem cor como uma folha em branco onde nada será escrito – e mesmo que seja, estará tão fragmentada que nada fará sentido. Mas não quero entrar em questões absolutas do existencialismo do aqui e agora e nem da metafísica do real. Deixemos isso para outro texto.


O egoísmo da genética, de minha própria existência versus a social-coletividade. O eu versus o todo versus uma pequena parcela deste todo. Mas, este versus não é o contra, é apenas o reconhecimento de que somos todos diferentes e movidos por diferentes representações de nós mesmos e nossas próprias vontades e impulsos. Lembrando Kierkegaard, mas não citando-o, só há uma forma de estarmos totalmente fora de tudo isso. Do contrário, estamos todos no mesmo barco e alguém precisa começar a remar para algum lado, mesmo que existam divergências.

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