Sim, somos todos hipócritas.
Todos grandes hipócritas, donos de uma hipocrisia tão bem construída que é
hipócrita consigo mesma.
Sem querer aderir à campanha de
postar foto comendo banana em solidariedade para com o caso do jogador Daniel
Alves (Barcelona), que ironizou, e muito bem, diga-se de passagem, o fato de
torcedores atirarem a fruta ao campo em sua frente, claramente chamando-o de “macaco”,
prefiro dizer que #SomosTodosHipócritas! Exatamente isso.
Admirei a dei risada ao ver,
posteriormente ao jogo, pois não acompanho futebol, o jogador tomar aquela
atitude. Foi um tapa na cara, como quem desse com os ombros dizendo: fodam-se!
No entanto, após ver dezenas de
pessoas, anônimos e celebridades, postando suas selfies segurando ou comendo banana, pensei: sim, a hipocrisia come
solta (não come banana). É verdade que existe um sistema de marketing gigantesco
por trás destes comedores de banana oportunistas que pipocaram aqui e acolá se
dizendo “solidários” contra a questão do racismo. Porém, não podemos nos esquecer
de que vivemos em um país (imenso) repleto de culturas, diferenças, desigualdades
e questões distintas entre os seres humanos tão grandes quanto este mesmo
território.
O preconceito está em todas as
partes. Chamar afrodescendentes de macacos é piada velha, mas persistente
(infelizmente). As minorias de classe, agora dizendo sobre todos os aspectos sociais,
não somente afrodescendentes, não são obrigados a comerem apenas bananas. Se
fosse isso estaria ótimo. Mas vivem obrigados a comer merda produzidas por
babacas racistas e/ou preconceituosos no dia a dia, desde o trabalhador braçal
ao magnata da mídia.
Entretanto, quero lembrar que
este é o país dos grandes preconceitos e também das grandes causas contra os
grandes preconceitos. O Brasil, mesmo com todas as suas políticas de igualdade
entre classes sociais e grupos étnicos, é um país muito novo, assim como muitos
criados também sobre dogmas preconceituosos e excludentes, e está longe, muito
longe de ser um país sem ações racistas como a que aconteceu e diariamente
acontece em toda parte.
Preconceito contra nordestinos,
nortistas, sulistas; mulheres (sexismo), homossexuais e suas classes; classes
sociais etc.; este é o Brasil, que se uni em momentos nos quais todos parecem
gostar de abraçar uma causa e salvar as florestas e as vaquinhas, mas que em
seu cotidiano fazem de tudo para conseguirem vantagem uns sobre os outros.
Como já disse em outros momentos,
não pregando o fato, mas avaliando de maneira imparcial dentro de contextos
fenomenológicos da sociedade, os preconceitos sempre existirão. E não falo
sobre questões de cor, credo, sexo... não. Os preconceitos existem, pois são intrínsecos
ao ser humano, fazem parte da humanidade. Se não existirem por questões nítidas,
(como cor da pele no referido caso) existirão em questões sociais, econômicas,
questões triviais... Mas sempre existirão.
PORÉM, e é aqui que me redimo
neste último parágrafo (talvez controverso): por mais que estes preconceitos
existam na essência do ser humano, o mesmo não pode julgar seu próximo baseado
nestas questões. O Estado, como um todo, não pode admitir que o racismo seja
uma forma de representatividade popular. Atos assim deveriam ser inconcebíveis
(tanto quanto a utilização de fatos como este por agências marketeiras e
oportunistas).
A única lição que podemos tirar
do caso: o torcedor foi banido permanentemente. Como o próprio jogador disse em
entrevista após sair do gramado: "Estou
há onze anos na Espanha, e há onze anos é igual... tem que rir desses atrasados”.
Isso demonstra a sagacidade do jogador frente a tantos momentos iguais (ou
piores) pelos os quais já passou, e demonstra mais ainda a inferioridade, agora
sim, de pessoas que consideram engraçada ou correta a tentativa de humilhação
de outro ser humano.
Enfim; este é um assunto para
milhares de palavras. Mas...
Finalizo aqui este texto
lembrando que não somos todos macacos; não somos todos maconheiros; não somos
todos perfeitos; não somos todos heróis da resistência. Mas, somos todos
humanos, e como estes, #SomosTodosHipócritas, que cotidianamente somos
coniventes (por meio do silêncio ou da reprodução silenciosa) com práticas
preconceituosas em todos os níveis, camadas e meios sociais.
O que podemos fazer, afinal, é
educar a nós mesmos para que as futuras gerações (se que é existirão) sejam
cada vez menos preconceituosas do que somos. Ou, no mínimo, mais toleráveis com
a diversidade humana.
(Obs.: fico a disposição de quem
quiser discutir o assunto de maneira adulta. Releiam o texto antes de me encherem
de comentários enraivecidos).
Marco Buzetto | 01/05/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário