03/03/2014

Experiências em dias de festa.

Horyon Lee

Vou contar como foi o lance, como começou, aconteceu e terminou. Mas, vou contar em forma de diálogo. Bem simples. Só se ligue no tempo, na velocidade, no fôlego da conversa. Não precisa ler com tesão. Só se você se identificar em algum momento... Mas leia com vontade.

Local: um destes inferninhos na Augusta, super charmoso, estilo cabaré retrô.
Noite.
Doses de gim, tônica e limão, e um couvert muito bem feito, com tomate seco e azeite, mas não tão gostoso. Gostoso de olhar, só.
Quarenta e cinco minutos numa mesa, de costas pra parede, sempre (mania minha – depois do que aconteceu com Abraham no teatro... não corro o mesmo risco).

Chega o rapaz. Bonito. É verdade: bonito. Homem sabe e pode dizer que outro cara é bonito, por que não? Daí partir pra um interesse é outra coisa.

― Seguinte, gato – começou ele: tem alguém nessa balada afim de você.
― Olha amigo, eu fico mega lisonjeado sempre que um gay dá encima de mim (não que ele realmente dê encima de mim, se é que me entende). Agradeço. Mas, sinto muito. – e continuei: se quiser se sentar comigo, tomar um drink, será um prazer. Mas, disso não passa...

Então o cara ficou puto. Não muito puto. Mas ficou meio desconfortável o papo. Pensei que tivesse entendido errado, sei lá, de repente paquerou o cara errado e não gostou de tomar o não. Mas não foi isso.
Disse ele, bravo, mas com um sorrisinho safado:

― Deixa de ser convencido, viadinho. Eu não quero você. Quem quer e aquela minha amiga, sentada no balcão, te encarando desde a hora que entrou... E nada. Você nem percebeu. Ela me disse: “Conheço aquele cara. É o cara do livro. Prometi a mim mesma que um dia eu daria pra ele se o encontrasse”. E aqui estamos. Ela quer ir pra cama contigo. E aí?
― E aí? Quero conhecê-la. – disse eu, ultraviolentamente com as palavras. Ela parece muito interessante.
― Interessante? Para com isso. Ela já disse que quer dar pra você. Não tem frescura.
― Então vamos lá. – respondi.
― Nada disso. Pra sair com ela, tem que pagar uma taxa pra mim.
― Um taxa?
― Quero um beijo. – disse ele, de supetão, sem censura, sem frescura, na lata.
― Um beijo? Não quero te beijar, bonitão. Já disse que esse não é meu lance.
― Então, nada feito. – respondeu ele, se levantando da mesa.

Não aguentei. Em milésimos de segundo segurei seu braço e o puxei de volta pra cadeira.

― Senta aí. Calma. Me fala mais da sua amiga. – disse eu.
― Ela é uma delícia. – começou ele. Corpo perfeito, inteligente, engraçada... O que mais querer em uma mulher, não é mesmo? E por alguma razão ela está interessada em você. Mas, tem a taxa...
― Essa taxa parece mais um pagamento pra comprar meia hora de sexo. – brinquei. Parece até que estou negociando com um cafetão...
― Você é quem escolhe. Tenho certeza que não será meia hora. Ela quer você, e quer agora. Isso não vale me pagar um beijo?

Eu olhava pra ele, olhava pra garota, pra ele de volta, pra garota... Ela passava uma das mãos pelo decote do vestido e mordia o canto dos lábios... Na cena mais sexy que eu tinha visto aquela semana. Ela não parava de me convidar com os olhos, com a boca, com o dedo indicador brincando com o gelo na taça de Martini.
A conversa parece longa, mas não foi. Tudo aconteceu rápido. Ele falava, eu falava, ele perguntava e eu respondia. Ele sorria e eu retribuía. Ele punha a mão sobre a minha... eu tirava, punha sobre a mão dele, e dizia: “calma aí. Vamos devagar”.

― Para de enrolar. Me dá um beijo ou não, gato? – intimou ele. Mas não quero beijinho de menininho, não. Quero um beijo de verdade, com amasso, com vontade, de língua, com saliva.

Engoli seco. Garganta fechada. Gole de gim pra empurrar o gosto da dúvida goela abaixo.

― E então, gato? Não tenho a noite toda.

Ele passou a língua nos lábios e ergueu as sobrancelhas. O mesmo fez sua amiga no balcão. Os dois em um jogo de sedução pra cima de mim. A diferença é que eu começaria aos beijos com um e na cama com a outra.
É de se pensar.
O que fazer?
O que você faria no meu lugar?
Uma super gata louca pra arrancar suas roupas e dar a você todo prazer que alguém pode oferecer em uma quinta-feira, e o preço é um beijo no amigo que parece estar de pau duro por baixo da mesa. Só isso. Um beijo bem dado no cara. Uma transa bem dada com a mulher.
Sinceramente, cá entre nós, ainda em minha heterossexualidade: o cara nem era feio. Um cara boa pinta, bonitão... Boca bonita, sexy. Super bem vestido, alto, elegante e com um toque amadeirado no perfume.

― Isso fica entre nós. – disse eu, olhando seriamente.
― Entre nós e ela. – respondeu.

Chegou à mulher em minha mesa. Se sentou. Me deu um beijo longo no rosto, perto da orelha. Arrepiei. O sangue foi pro lugar certo. Vestido vermelho de cetim, aberto até a cintura na perna esquerda.

― No meu apartamento, escritor. – disse ela, finalizando o Martini, mordendo a cereja; lábios úmidos pelo suco da fruta.
― Mas e o beijo? – indaguei.
― O beijo? Você quer beijar meu amigo ou quer transar comigo? – perguntou ela.

Por um momento me senti um verdadeiro imbecil. Mas, como assim? Não foi o trato? O cara me alugou a noite toda pra meter um beijo na minha boca, dizendo ser a taxa pra ir pra cama com sua amiga e tudo mais... E agora parecia que eu é que estava enrolando a porra toda. Como assim? Uma daquelas situações que você se sente culpado sem saber por que... Sabe como é?!

Levantamos. Segui-a até o carro. Fomos para o seu apartamento, logo aí, alguns quarteirões. No elevador, os dois começaram trocar carícias. Passando a mãos daqui, ali, por cima, por baixo... Beijos e abraços. E eu lá, olhando tudo. Elevador espelhado.
Ele passou a mão por baixo do vestido, ela sorriu e dei aquele gemido característico. Ele puxou sua calcinha para baixo, deixando cair até o salto. Ela pegou com a mão direita, só com os dedos. Cheirou. Sorriu. Passou os lábios e jogou pra mim.
A porta abriu. Apartamento.

― Vai ficar aí, com o pau duro desse jeito? – perguntou ela, já na sala, olhando para trás por cima do ombro.

Não aguentei. Corri pra dentro. Tomei-a pelos braços, abri o zíper do vestido. Nada. Sem sutiã... já estava sem calcinha desde o elevador. Nua em pelo. Linda. Leve e livre. Aquele tom de pele que me leva aos primórdios da felinidade, instinto sexual, meio Cat People. Tesão puro.
O amigo vem com um selo de ácido. Põe na boca. Leva um até a boca dela, na ponta da língua. Que sensual. Coisa linda. Imaginei um monte de coisas com aquela língua em milésimos de segundo.

Agora leia aumentando a velocidade (por causa do ácido):
Ela deitou no tapete... um tapete felpudo, estilo pelo de urso. Parecia areia movediça. O cara tirou a roupa, abriu as pernas de sua amiga, tirou minha camisa... Eu lá, parado, babando, encarando... já tinha engolido meu selo psicodélico com um gole de vinho branco. O sangue a milhão. Ele tirou minha calça, minha cueca... Meteu a mão no meu... Me empurrou pro meio das pernas da mulher deitada no tapete. Que cheiro maravilhoso, adocicado, fresco... Daí senti um arrepio, um arrepio que começou no final da espinha e subiu até a nuca. Não foi a boca dela, e a minha estava ocupada.
Ela, gemendo. Muito. Alto. Quase gritando. Minha língua lá, entrando, saindo, banhando os lábios baixos rosados e perfeitos.
Ele puxou minha cabeça e me empurrou pra cima dela. Boca a boca. Língua a língua. Segurou meu... E pôs dentro de sua amiga, delicadamente. Ela gemeu. Não por que é grande. Não é. Acima da média... mas não é grande. Gemeu pelo prazer, pela atmosfera. Ele me empurrou e ela me puxou.
Os três, mudos. Ninguém falava mais nada. Sensoriais. Clima. Ambiente. Só os gemidos preenchendo os espaços. Orgasmos. Pra todo lado, orgasmos. Horas madrugada a dentro.

Não dá pra explicar. Nem aqui, nem em lugar nenhum. É ter pra saber. O resto é lenda, história. Ninguém sabe ao certo se realmente aconteceu, ou se foi viagem da transa entre o ácido e o álcool. Experimentalismo.
Mas foi uma destas experiências em dias de festa. Natural. Coisa do ser humano. Amanhã, ninguém se conhece.

Mas, e o beijo?
O beijo não rolou. Rolou tudo o que tinha pra rolar. Menos o beijo.
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Segunda-feira. 03/03/14
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