Crônica Sete
Não era de todo desconfortável.
Esta casa tinha seus devidos banheiros, para que os animais se condicionassem a fazer sua sujeira reservadamente. Esta casa possuía treinadores, alimentadores, grandes bebedouros com água fresca.
Era uma boa jaula. Claro que sim. Não podemos negar.
O que há de ruim em manter este tipo de animal em um zoológico, para agradar famílias e olhares curiosos? Onde está o erro em querer manter um espécime tão raro e ao mesmo tempo parasitário dentro de uma jaula, para que as gerações futuras o conheçam vivamente?
As placas diziam: “Não alimente os animais”. Mas alguém sempre se arriscava e lançava a eles algum pedaço de comida, alguma fruta.
Alguns comentavam entre si: “Que bichos mais estranhos”. “Que tipo de ambiente eles construíram para si”?
Outros, porém, riam de suas formas tão estranhas: “O que eles são afinal”? “Que tipo de proeza fazem”?
De repente, grades se levantaram ao redor da jaula, para proteger o público, e gritos, urros, berros eram ouvidos a quilômetros de distância. Os pássaros assustados voavam em bando, da esquerda para a direita... Bicho demoníaco, monstruoso, pesadelo real.
Fora então lançado dentro da jaula mais um daquela espécie.
Onde diabos encontravam tantos? Parecia praga. Ainda bem que não havia muitos sobre a Terra.
Era um espécime quase adulto, com seus aproximados vinte anos, por aí. Os outros animais enjaulados haviam se escondido atrás de algumas árvores. Mas, minutos depois, resolveram se cheirar; e tocaram-se uns aos outros, como que soubesse o que fazer.
Estes animais pareciam entender-se entre si. Mexiam suas bocas, como quem ousasse dizer algo. Mas ninguém entendia; não quem estava de fora, de público.
Alimentavam-se de um modo estranho, sem prazer pela refeição.
Banhavam-se a todo instante, em mangueiras d’água adaptadas por eles próprios.
De seu ato reprodutor não nasciam outros espécimes. Pareciam controlar a taxa de natalidade de seus iguais. E sentiam prazer em realizar aquele ato. Não era instinto apenas... Não era correto. As fêmeas não estavam no período de cio. Elas é que procuravam seus machos. Parecia um circo de horrores.
Todos nós, do público, observávamos atentos, e de boca aberta àqueles animais tão raros. Ficávamos horas, abobados, indignados com o que faziam.
Alguns deles adaptaram lâminas de metal, e quando sentiam-se encalorados, raspavam seus pelos, da face, os da cabeça, entre as pernas e os braços. Era uma imagem grotesca. Assistíamos atordoados, enojados com tamanha adaptação.
Os machos, que horror, e também algumas fêmeas, cortavam suas unhas. Como é possível? Seria uma adaptação da natureza, pois não precisavam caçar (recebiam comida a todo instante)?
Aquele era o zoológico mais estranho e bizarro que eu havia conhecido. Era o que todos comentavam ao meu redor.
Aquele era o zoológico mais estranho e bizarro que eu havia conhecido. Era o que todos comentavam ao meu redor.
A instrução que recebíamos sempre que fossemos visitar esta ala do zoológico, era de que estes animais eram os mais perigosos de toda a natureza.
Devíamos tomar o máximo de cuidado, para que nenhum deles se aproximasse demasiadamente. Mesmo com jaulas e grades por todos os lados.
Havíamos sabido que seu poder de adaptação era realmente rápido, e seus cérebros evoluíam livremente durante os anos. Todo conhecimento era absorvido.
Havíamos sabido que em seu tempo eles devastavam as planícies, secavam e tornavam a água insalubre. Matavam uns aos outros, e não comiam sua carne. Não consigo encontrar uma finalidade nestes atos. Eram realmente perigosos!
Ainda tenho pesadelos com aquelas jaulas.
Sempre que fecho os olhos, meus sonhos se enchem daquele nome: Homo Sapiens Sapiens, Homo Sapiens... Sapiens, Homo Sapiens... Sapiens (?).
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