27/07/2021

Racistas, assassinos, estupradores e demais Borbas Gatos nas fogueiras das vaidades

A "queima" da estátua de Borba Gato ainda gera discussão. Esta discussão, de forma geral, não aborda o fato de Manual de Borba Gato (1649-1718), um bandeirante, ter sido um caçador de indígenas e negros, assassino, estuprador e assassino de mulheres e crianças, racista etc. Não. O "debate" gira em torno de uma figura como esta ter sido queimada em praça pública em uma manifestação popular contra um governo tão parecido em suas violências quanto o próprio Borba Gato.

"Pautando" estes "debates" estão, em sua grande maioria, brancos conservadores que dizem prezar pela família e os bons costumes, mas que veneram figuras como a de Borba Gato, que dedicaram suas vidas a violências diárias contra homens, mulheres, crianças etc.

A problemática levantada contra a derrubada destas figuras históricas não está na figura em si de Borba Gato, mas no que elas representam: a morte do povo comum, das minorias sociais, a violência contra indivíduos e grupos específicos. Na fala de quem defende estas figuras, estas personagens, o que se tenta preservar é a liberdade destas práticas, sejam elas dos Borbas, dos Ustras, dos Bolsonaros, dos Fujimoris, dos Pinochets e tantos outros que atentaram contra a vida alheia em benefício de grupos identitários, em sua maioria brancos conservadores endinheirados (ou com alguma imaginação de status quo).

As personagens, as figuras, as estátuas, os monumentos, as arquiteturas, as placas e nomes de ruas e rodovias, percebam, toda construção e organização de cidades são modos que a história - do ponto de vista deles - encontrou para se manter no poder, subjugando, vigiando, condenando e punindo os "diferentes".

Precisamos, sim, revisar - como sociedade - a "presença" destas figuras em nosso dia a dia, e ensinar a história sem idolatria, mas também do ponto de vista dos derrotados, dos violentados, dos assassinados e ocultados pelo poder hegemônico.

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