07/10/2015

É fácil pensar fora da caixa?




Uma característica modal com forte presença do século XXI, principalmente a partir de 2010, é dizer: “pense fora da caixa”. Bom, a “caixa”, nada mais é que uma referência velada ao mito da caverna, de Platão. Ou você nunca percebeu isso?

O resumo da ópera para O Mito da Caverna de Platão é o seguinte: existem pessoas que vivem apenas dentro de uma caverna, e por meio de sombras projetadas na parede da caverna pela luz, estas pessoas imaginam como e o quão perigoso é o mundo do lado de fora, já que não conseguem ver além das sombras da parede.

Resumido isso, vamos pensar um pouco mais. Esta moda de dizer “pense fora da caixa” é tão ou mais lúdica quanto o mito da caverna. No entanto, esta expressão é infinitamente menos compreendida que o mito utilizado por Platão.

Por quê? Simples. Dizer “pense fora da caixa” parte de um pressuposto que a pessoa em questão não compreende nada além do universo no qual vive (a caixa), muitas vezes sua própria cabeça. O “pensar fora” quer dizer que a pessoa deve expandir suas linhas e capacidades de pensamento. Ótimo. Até aí, tudo certo.

Porém, este “pensar fora da caixa”, primeiramente, deve ser analisado da seguinte maneira:

  • Qual o tamanho desta caixa? 
  • Há quanto tempo a pessoa existe dentro da caixa? 
  • Qual a relação da pessoa com a caixa e da caixa com o universo, já que o universo que esta pessoa conhece é tão somente o próprio interior da caixa. Então, como uma pessoa pode “pensar fora da caixa”, sendo que tudo o que ela conhece como real e existente está no interior da caixa? 
  • Esta pessoa dentro da caixa possui consciência da caixa em si? Pois, se não possui, como querer sair dela? 
O “pensar fora da caixa” não é uma tarefa tão simples quanto simplesmente dizer a alguém para “pensar fora da caixa”. Pelo o contrário, é um processo muito difícil e que exige muito conhecimento e compreensão de nós mesmos, interior e exteriormente, e do mundo como um todo e de seus processos e realidades.

Outro ponto interessante sobre a utilização desta expressão.


É muito comum vermos empresas e grandes líderes e empreendedores dizendo que motivam seus funcionários e colaboradores a “pensar fora da caixa”. Mas, existe certo risco.

Seu superior pode dizer e te fazer acreditar piamente que suas opiniões são valorizadas, e que quer que você “pense fora da caixa” o máximo possível, beneficiando e enriquecendo o meio profissional com princípios de inovação. No entanto, precisamos prestar muita atenção. Pois, “pensar fora da caixa” também quer dizer ser comprometido e buscar sua própria identidade e originalidade, e isso, em um universo corporativo, pode atrapalhar. Possivelmente todos queiram que nós “pensemos fora da caixa”. Entretanto, quais as respostas que estes pensamentos irão gerar, as suas ou as de quem está pedindo para você “pensar fora da caixa”?

Pode parecer complexo, e realmente é. Pois, “pensar fora da caixa” exige um nível de análise constante e compreensão que muitas pessoas não possuem até mesmo aqueles que aderem à moda de dizer que alguém “pensa dentro da caixa” e não consegue “pensar fora”. Já que, sem a compreensão do todo, não se pode ao menos dizer-se para alguém “pensar fora da caixa”.

Então, para fechar o pensamento, fica a dica:

Não seja pretensioso. Se você é desses que diz às pessoas a sua volta, até mesmo com tom de superioridade, para “pensarem fora da caixa”, antes de tudo, tenha ciência de que a sua compreensão desta expressão deve estar muito à frente do que você imagina, e não apenas dentro de uma moda social.
Em outro ponto, se você é uma pessoa que costuma ouvir muito esta expressão para si, questione o que está ouvindo. Pois, o ato de pensar exige um círculo vicioso e processo constante de análise à compreensão à análise.

A proposta é que existam processos de inovação do pensamento, isso é claro. Entretanto, estes processos de inovação devem ser racionais e planejados de acordo com as finalidades necessárias com o auxílio da utilização do pensamento, objetivando metas reais e concretas. O pensamento livre e o uso da criatividade, por mais positivos e louváveis que possam parecer, necessita de certo nível de lógica e coerência. Afinal, uma pessoa que “pensa fora da caixa” de um jeito totalmente desconexo e sem aplicação, é preferível que volte para dentro da caixa e amadureça um pouco mais suas ideias.

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