
O patriotismo, o amor à pátria, porém, não
reflete exatamente a realidade de quem gritou e ainda grita alto o “patriotismo
brasileiro” em campanha. Na verdade, esse amor
à pátria dos brasileiros que gritam pelo patriotismo reflete, nada mais, que
a segregação enraizada destes indivíduos (coletivos); “patriotismo” também gritado
aos berros e agressões como “nacionalismo”. Nacionalismo este, um apreço
incomensurável pela nação e por tudo aquilo o que é próprio de sua nação.
Contudo, o brado pelo nacionalismo
que foi marca registrada, e ainda é, na boca de alguns incompreendidos e
incompreensíveis, também não reflete necessariamente o que é ser nacionalista.
Contraditoriamente, estes inúmeros “patriotas”
defendem apenas o que eles mesmos acreditam como sendo sua pátria, totalmente
diferente da realidade que os cercam, pois ignoram toda a diversidade a sua
volta. E também vão na contramão do que seria o nacionalismo, pois insistem na
diminuição do Estado na vida pública, além de torcerem o nariz para a produção
nacional, seja ela em qualquer área. Patriotas e nacionalistas de butique que
vão na onda de discursos lamentáveis e diminutos de qualquer conhecimento real
e do bom senso; e uma butique que não vai muito além das paredes de suas casas.
Mas, a crítica aqui (se é que esta é uma
crítica), não é apenas sobre eleitores e fetichistas segmentados, e sim, para
todos nós que falamos de um Brasil enquanto Brasil, enquanto país de origem,
enquanto território e morada. A ideia, então, versa, principalmente, sobre
todos aqueles que defendem a ideia de um Brasil melhor.
É compreensível que todos nós queiramos um Brasil
melhor. É compreensível que estes “todos
nós” estejam divididos em inúmeros segmentos e camadas sociais. É compreensível,
mesmo assim, mesmo com esta sociedade dividida, que cada um de nós desejemos um
país melhor. E é compreensível que cada um de nós tenha uma compreensão, ou pelo
menos uma ideia muito superficial do que seria este Brasil melhor. Pois, cada
um de nós, individualmente, parte de nossas próprias convicções. Porém, coletivamente,
o discurso não vai para o mesmo lado.
Politicamente, penso que se pode reverter a
realidade retrógrada que se instalou fazendo uma coisa que, culturalmente ao
que parece, não fazemos: sentir vergonha e assumir o erro. Do contrário, nunca
haverá compreensão e aperfeiçoamento em nossa sociedade. Votou errado? Assuma e
ajude a reverter a situação. De forma geral, cometeu um erro e sabe que
fora um erro, e sabe que este erro gerou uma ação ou reação desagradável?
Envergonhe-se e pronto; ajude a melhorar as coisas a partir daí. Ninguém se
envergonha de mais nada, e não se pode refletir sobre nossos erros sem o mínimo
de sentimento de vergonha; não a vergonha exposta, pública, de plateia. Não.
Vergonha íntima, nossa, por nós mesmos para com nós mesmos.
Queremos continuar lutando por um Brasil
melhor? Queremos falar de uma pátria, de uma nação? Então, temos que,
obrigatoriamente enquanto povo, enquanto sociedade brasileira, compreender e
aceitar que sim, existiu escravidão no Brasil e que todos nós, historicamente,
somos responsáveis, não pelo ato da escravidão em si, mas pela compreensão que
nos traz o fato histórico e pela responsabilidade que temos em minimizar os
danos causados. Temos que assumir que existem sim inúmeras formas de preconceito
no Brasil, contra todas as minorias, contra afrodescendentes, contra mulheres, contra
LGBT+, contra índios, contra pobres, contra crianças, contra idosos. Temos que
assumir que existem mais assassinatos por vários fatores no Brasil por ano do
que em vários países do Oriente Médio que vivem sob tensão bélica e guerra
civil. Temos que assumir que o desmatamento é sistematizado, e que estamos
perdendo diariamente nossa flora e fauna em nome do lucro de grandes
investidores. Temos que assumir que o desemprego é real, e os trabalhadores
perdem seu lugar para o capital financeiro que nada produz. Temos que assumir e
reconhecer a diversidade sexual, a diversidade cultural, a diversidade
religiosa fazendo com que todas existam em harmonia. E temos que assumir toda
essa realidade brasileira e nos envergonhar por isso. Só assim podemos
lutar por um Brasil melhor, pois meu Brasil não é da porta de minha casa alugada
pra dentro. Meu Brasil é o todo, todos os Estados, e deste Brasil fazem parte
todos os brasileiros e residentes com todas as suas identidades e
originalidades.
É de vital importância que nos assumamos
enquanto brasileiros, e devemos nos apoiar na história de nosso país para isso,
uma história que se mistura com as transformações do mundo numa realidade
brasileira que insiste em nadar contra a maré, num esforço contínuo e teimoso de
involução.
Prof. Marco Buzetto | 10 de maio de 2019
__________Siga o escritor Marco Buzetto nas redes sociais: Facebook. Instagram, Twitter.
Nenhum comentário:
Postar um comentário