06/03/2019

Sobre o (des)Governo de Jair Bolsonaro e o vídeo "do impeachment"

Ontem, 05/03/2019, o então presidente Jair Bolsonaro, em sua conta oficial no Twitter, publicou um vídeo com atos obscenos durante o Carnaval (provavelmente deste ano, mas, ninguém sabe ao certo), e como comentário faz uma citação difamatória de seu próprio país e de uma das maiores tradições culturais (lembrando que Carnaval não existe só no Brasil).

O ato em si, mostrado no vídeo, estava isolado às vistas de algumas centenas de pessoas no local, e, obviamente, cometer atos obscenos em público é contra a Lei e também possui punição prevista: Art. 234 do Código Penal, pena de 3 meses a 1 ano de detenção.

Contudo, divulgar esse tipo de ato também possui pena prevista, que, por conta de seu potencial alcance, repercussão e “estrago”, é maior do que para quem comete: previsão de pena de 6 meses a 2 anos de detenção.

Em meu Twitter (no qual tenho poucos seguidores e onde me sinto mais à vontade para postar questões políticas), divulguei uma cópia (um print) da Lei Nº 1.079, de 10 de abril de 1950, sobre as responsabilidades administrativas da presidência, especificamente o Capítulo V, Dos crimes contra a probidade na administração. Essa Lei também é conhecida como “lei do impeachment”. Pois bem, entre outros parágrafos do Art. 9, o sétimo é o que chamou a atenção de muita gente comum, muitos juristas, advogados etc. e quem mais estivesse interessado. Segue:

“[...] 7 – proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”.


Além deste, os parágrafos anteriores também poderiam ser utilizados para justificar irresponsabilidades com o cargo presidencial por parte do atual presidente Jair Bolsonaro. Contudo, fiquemos apenas neste que criou toda a repercussão.

Muitas pessoas me disseram: “O presidente está certo. Não quero que meus filhos vejam essas cenas nas ruas”. Pois é. Nem eu.
Então rebati: “Quantas crianças seguem o perfil do presidente e tiveram a oportunidade de ver essa cena disponibilizada por ele, na segurança de seus lares e na companhia dos pais”?
Então a discussão mudou, com um ou outro dizendo que eu estava fazendo militância de esquerda (acredito que pelo simples fato de eu ser professor e este “título” estar em meu perfil).



O que não estão entendendo

Não é uma questão de militância, de direita, esquerda, centro, extremos etc. É uma questão de responsabilidade quanto à função, à posição, à imagem, entre outras coisas, do Presidente e sua ocupação de cargo. Além disso, também é uma questão clara de um ato de difamação do próprio país que elegeu Jair Bolsonaro como presidente. Desrespeito generalizado, com quem apoia seu governo, principalmente. Pois, muitos apoiadores do Governo também se sentiram constrangidos com a publicação do vídeo por parte do presidente no Twitter. O twitte do presidente Jair Bolsonaro rodou o mundo, e muitos correspondentes estrangeiros e jornais publicaram matérias sobre a falta de decoro do presidente do Brasil.

Sem questões partidárias, e expliquei muito isso aos que me ouviram e dialogaram pacificamente (pois ainda existe quem saiba conversar, acreditem), falamos sobre este ato de improbidade administrativa, pois, claramente, o presidente Jair Bolsonaro perdeu o decoro, e procedeu de modo incompatível com a dignidade e honra exigidos pelo cargo. Além disso, também fere o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, pois, é fato que muitas crianças e adolescentes seguem o perfil do presidente Jair Bolsonaro e foram expostas ao conteúdo impróprio de ato obsceno. Não somente isso, a postagem também fere as Diretrizes do próprio Twitter, e o vídeo fora denunciado por muita gente (e, até o fim deste texto, pelo o que vi, pois procurei novamente na conta do presidente, o mesmo fora removido, talvez por ele próprio - tomara).

Então, só para entendermos melhor

Divulgar atos obscenos: pena prevista no Código Civil;
― Exposição de conteúdo impróprio à crianças e adolescentes: crime previsto no ECA;
― “Proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”, prescrito na Lei Nº 1.079 de 10 de abril de 1950, Capítulo V;

Além disso, a postagem do Presidente Jair Bolsonaro foi uma tentativa frustrada de resposta às absurdas quantidades de protestos contra seu Governo durante o Carnaval 2019, que iam desde marchinhas de carnaval contra o Governo até o maior #VTNC da história. Isso demonstra uma mágoa infantil tão grande da parte do presidente que é impossível não pensar que a pessoa em questão não possui a menor compreensão da importância de seu cargo, e uma instabilidade emocional explícita, e digo novamente: difamando o próprio país. Relembre que o mesmo fora “reformado” (expulso) do Exército por não possuir capacidade psicológica de continuar na corporação. Além disso, relembre também todos os discursos preconceituosos, racistas, sexistas, homofóbicos, entre outros discursos de ódio e violência cometidos abertamente por Jair Bolsonaro. Enquanto deputado já estava incoerente. Enquanto presidente, a coisa é mais grave.

Então, se você ainda acha que a questão é de maniqueísmo político, de diretas e esquerdas, repense sobre sua posição política e social. A questão não é partidária, pois, se fosse, teríamos que falar de toda a corrupção, as candidaturas laranjas do PSL, as intimidações que o presidente faz aos ministros e “colegas” de Governo etc. e além. Aí você pode dizer: “O Lula tá preso, otário”. E como eu respondi a uma alma confusa que me gritou isso: “Só você falou do Lula até agora, meu amigo”.

Poderíamos falar, também, do fato de o Presidente Jair Bolsonaro ter se tornado um mero blogueiro, um blogonaro. O presidente não sai do Twitter e já fez os maiores estragos ao seu próprio Governo por conta disso. Não suficiente, briga abertamente com artistas, professores entre outros, como faria qualquer adolescente magoado e raivoso. As últimas foram a ameaça de processo ao ator José de Abreu (presidente autoproclamado, na brincadeira) e a briga com a cantora Daniela Mercury, dizendo a ela, inclusive: “Seu presidente não é o José de Abreu? Então, fala com ele!”. E isso me faz rir, tamanha a sua infantilidade irresponsável, prestando-se a criar “polêmicas” na Internet. Não tem como me sentir representado por um presidente que se ocupa da Internet. (Nota: a cantora convidou o presidente para um debate, para explicar a ele sobre a Lei Rouanet, e a resposta fora aquela. Além de que Jair Bolsonaro, nesta resposta lamentável, reconhece José Abreu como presidente(?!)).

Outro fato fora a sua visita ao Paraguai, na qual exaltou o ditador Stroessner, um homem responsável pela morte de mais de 3 mil pessoas, pela tortura de mais de 18 mil pessoas, pelo exílio de mais de 3.400 pessoas, pela prisão de 236 crianças e adolescentes (muitos que nasceram na prisão) e o desaparecimento sem registro de mais de 450 pessoas. Não somente, o ditador paraguaio Stroessner também fora culpado por manter casas nas quais crianças eram estupradas diariamente por militares e por ele próprio; sem contar o apoio a nazistas, concedendo a eles refúgio político no Paraguai.

Ah, mas isso foi no Paraguai, diz você. Bom, sabe o Coronel Brilhante Ustra que é tão aclamado por Jair Bolsonaro como herói nacional? Pois bom, é a mesma coisa, só que no Brasil.

Percebem, então, o quão grave é a situação representativa de Jair Bolsonaro no Governo?
É hora de assumir que Jair Bolsonaro não possui capacidade mental, intelectual, emocional etc. para se manter como presidente do Brasil. Não é uma questão partidária, é uma questão de saúde de um país que está sendo governado via Twitter sem a menor responsabilidade para com a nação.

Boa sorte a todos e a todas. E torço para que tirem a venda dos olhos neste fim de lua de mel com o Governo Bolsonaro.

Forte abraço.

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