Verecundia:
Cinco Textos em Oposição à Violência Contra as Mulheres
Este trabalho
consiste em uma coletânea de textos que possuem como objetivo tratar sobre as
diferentes formas de violência exercidas contra as mulheres. Baseados em fatos
estatísticos e depoimentos reais de mulheres que já sofreram algum tipo de
violência, este ensaio pretende contribuir para a luta incessante e
supranecessária contra a violência feminina, seus formatos e níveis, seja no
dia a dia sexista no qual as mulheres estão inseridas, seja na consciência de
que uma em cada quatro mulheres será vítima de violência em alguma fase de sua
vida, seja também em relação ao pós-ato, sob o estigma e trauma dos quais estas
mulheres sofrerão em continuidade de suas vidas.
Aqui, o relato
de uma garotinha.
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É tudo muito
bonito aqui. Minha mãe disse noutro dia que tem gente que não gosta de onde a
gente mora. Mas eu gosto. É calor, a gente pode brincar na rua, eu tenho um
monte de amigos que brincam comigo. Tem os primos e as primas. Tem os tios e
tias da escola. Tem bastante gente. Quando minha mãe vai trabalhar, eu fico em
casa, faço o serviço, lavo louça, varro o chão... Tem gente que fala que menina
de 10 anos não devia fazer serviço de casa. Mas eu faço... Ajudo em tudo aqui.
Mas primeiro eu faço a lição da escola, depois o serviço de casa, aí depois vou
brincar, quando minha mãe chega do trabalho. Aí ela me deixa sair pra brincar
aqui na rua até a noite... Até começar a novela. Aí eu entro, porque minha mãe
fala que já está tarde pra ficar na rua.
Quando eu
crescer eu quero ser médica de bicho. Eu gosto de bicho, de cachorro, de gato,
de cavalo, de tartaruga, de peixe, de elefante... Mas eu nunca vi elefante de
verdade. Só na televisão. Mas eu gosto mesmo assim. É bonito, e a gente tem que
cuidar dos bichos, não matar eles.
No meu
aniversário eu ganhei uma boneca de presente da minha mãe. Eu brinco com ela
todo dia. Troco a roupinha dela, dou banho pra ela não ficar sujinha, passo
xampu, sabonete... Depois eu jogo a água da banheira lá no quintal, pra limpar.
Minha mãe falou que a gente tem que economizar água.
Aí no
aniversário vieram todos os parentes aqui de perto, meus amiguinhos da escola,
teve bolo, brigadeiro... Eu gosto de brigadeiro. Comi um monte de brigadeiro. Aí
veio um tio meu lá de outra cidade e dormiu aqui em casa. Ele é muito legal;
me dá doce, bela, compra suco pra mim... Aí no aniversário ele deu outra boneca
pra ser irmãzinha da minha. Agora ela brinca junto e dorme na mesma caminha da
boneca que minha mãe me deu. É irmãzinha dela. Minha filhinha também.
No outro dia eu
fui pra escola de manhã com a minha mãe, aí ela foi pro serviço, que é lá do
outro lado da cidade. A tia lá da escola ensinou pra gente o nome de uns
animais diferentes, e como eles vivem na natureza, que o menor vira comida do
maior, e assim vai. Que uns comem plantas e outros comem carne de bicho também,
igual à gente. Mas eu tenho dó de matar bicho. Aí no recreio eu fiquei
brincando com minha amiguinha que mora perto da minha casa. A gente desenhou
uma amarelinha no chão e ficou brincando, depois chegou mais gente pra pular
também.
Depois eu fui
pra casa com a minha mãe, pra ela fazer almoço e depois voltar pro trabalho. Aí
meu tio chegou lá pra almoçar também. Falou que tinha que fazer um serviço de
pedreiro lá perto. Então ele comeu macarrão que minha mãe fez. É gostoso
macarrão com molho. Eu como duas vezes. Aí eu lavei os pratos e fui fazer lição
de casa. Depois meu tio deitou no sofá pra dormir um pouco ante de ir embora.
Mas como minha mãe tinha que voltar pro trabalho, ela falou pra ele tomar conta
de mim e ficar lá até ela chegar mais tarde.
Eu terminei de
fazer a lição de casa e meu tio já tinha tomado banho. Ele é muito legal, meu
tio. Vive me dando presente quando ele vem pra cá. Aí ele saiu pelado do
banheiro e sentou aqui no sofá comigo. Ele fazia isso sempre. Nem molhava o
sofá por que já tinha se secado com a toalha. Na primeira vez que ele fez isso
eu fiquei com vergonha, porque minha mãe sempre fala que a gente não pode ficar
pelada na frente dos outros e nem na frente de menino. Mas ele falou que não
tinha problema porque a gente era parente. Então é né. Aí ele ficou lá sentado,
e pediu pra eu fazer massagem no pipi dele. Ele pegou minha mão, colocou no
pipi dele e ficou passando. Aí ficou maior do que tava. Aí eu parei e ele falou
pra eu ficar passando a mão daquele jeito, que era assim mesmo que ficava
quando ele tava gostando. Ele falou que não era pra eu contar pra ninguém, que
ele ia me dar uma roupinha nova pra minha boneca. Aí eu falei que eu não ia
falar. “Mas nem pra mamãe”. Aí eu
falei que não, porque ele falou que se eu contasse pra alguém eu não ia mais
ganhar presente dele e ia ficar de castigo. Aí ele falou que o pipi dele tinha
gosto de sorvete de chocolate, que era pra eu chupar pra sentir o gosto. Mas
não tinha não. Tinha gosto do sabonete lá do banheiro, não de chocolate. Aí ele
falou que era pra eu continuar chupando, que ia sair leitinho. Mas não cabia
direito na minha boca. Então ele forçava minha cabeça devagarzinho pra caber. Aí
ele falou pra eu não parar de chupar por que já ia sair leite, e era gostoso.
Eu fiquei chupando do jeito que ele falou, e ele ficou pegando minha cabeça e
fazendo pra cima e pra baixo com ela, até que saiu leite do pipi dele, e ele
falou pra eu tomar que era pra ficar forte. Aí o que escorreu um pouco ele
falou que eu tinha que lamber. “Mas não vai contar pra ninguém, nem pra
mamãe!”, disse eu meu tio. Aí eu falei que não ia contar pra ela, porque ele ia
me trazer a roupinha nova da minha boneca.
Depois disso meu
tio não apareceu mais. Só no outro dia que ele levou o presente que ele tinha
falado. Mas depois ele não voltou mais. Só na outra semana. Aí ele falou pra eu
fazer de novo. Ficou passando a minha mão no pipi dele, até pedir pra eu
chupar. Mas dessa vez tinha gosto de chocolate mesmo, porque ele passou uma
aguinha que deixava com gosto de chocolate. Aí era mais gostoso pra ficar
chupando até sair leitinho de novo. E sempre falava pra eu não contar nada pra
ninguém, se não ele parava de vir aqui em casa e ia parar de me dar presente.
No outro dia eu
fui embora da escola com a minha mãe de novo na hora do almoço, e quando ela já
tinha voltado pro trabalho o meu tio apareceu lá em casa de novo, sem avisar, e
bateu palma pra eu abrir a porta e o portão pra ele entrar. Aí ele tinha
trazido um pente pra eu pentear o cabelinho das minhas bonecas, e deu um
espelhinho de brinquedo também.
O meu tio falou
que queria fazer um negócio. Aí ele tirou minha calcinha e ficou passando a mão
na minha pombinha, que ele falou que era gostoso. Aí eu falei que não, mas ele
falou que era só uma vez, que era pra eu deixar. Ele ficou passando a mão, e
perguntava se era gostoso. Eu respondia que era, mas que eu queria parar. Mas
ele falava que não. Aí ele perguntou que gosto que tinha a minha pombinha, se
era de chocolate também, ou se era de moranguinho. Aí ele ficou passando a
língua dele na minha pombinha, pra ver que gosto que tinha. Mas eu acho que não
tinha gosto de moranguinho nem de chocolate. Aí ele ficava passando a língua
mais forte, e passava o delo dentro da minha pombinha. Aí eu falei que tava
doendo pra ele parar, mas ele falava que não ia parar porque tava gostoso, mas
tava doendo. Aí ficou saindo sangue, e eu comecei chorar, por que tava doendo e
saindo sangue da minha pombinha. Aí ele falou que já ia parar de sair sangue,
que era só um pouquinho, que não ia sair mais. Ele falou pra eu chupar o pipi
dele de novo, que ia sarar. Ele falou que tinha um jeito de fazer parar de sair
sangue da minha pombinha, que era pra esconder o pipi dele lá dentro. “Não tio, vai machucar”. Mas ele falou
que não ia, e que ia sarar a minha pombinha. Mas aí quando ele começou esconder
o pipi dele na minha pombinha, ficou doendo mais ainda, e eu comecei chorar.
Ele ficava escondendo e tirando de dentro da minha pombinha até parar de
sangrar. Aí ele falou que ia passar o leitinho pra sarar, mas que tinha que
ficar fazendo daquele jeito lá. Aí ele falou pra eu ficar encostada no sofá pra
ele ficar atrás de mim pra eu não ver, pra não dor mais. “Fica de cachorrinho no sofá pro titio ver. Aí não vai dor mais”.
Mas ficava machucando. Aí ele falou que ia sair leitinho já, e era pra eu parar
de chorar que ele ia me dar outra boneca. Mas eu ficava chorando,... mas eu queria
outra boneca também. Mas aí ele tirou o pipi dele de dentro da minha pombinha e
falou pra eu chupar mais pra sair mais leite. Aí eu fiquei chupando até sair, e
depois ele passou o leitinho na minha pombinha pra sarar.
Depois ele falou
pra eu ir tomar banho, pra lavar bem a minha pombinha e pra não deixar minha
mãe ver, e que no outro dia ele ia trazer a outra boneca, mas eu não podia
falar nada pra ninguém. Mas aí ele não veio mais aqui em casa.
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Leia o texto 2: Verecundia 2 - Aqui, o relato de uma adolescente.
Texto 1, de 5. Acesse o link e leia os outros 4: "Verecundia: cinco textos em oposição a violência contra as mulheres".
Os textos também estarão disponíveis aqui no blog, diariamente.
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